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Notícias da Cátedra


Por Instituto Escolhas

17 novembro 2016

5 min de leitura

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Empresa de propósito é negócio, diz empreendedor

Durante lançamento da Cátedra Economia e Meio Ambiente, José Luiz Majolo defende que é possível ganhar dinheiro com sustentabilidade

Depois de 35 anos no mercado financeiro, os últimos cinco deles como vice-presidente do banco ABN Amro Real, o administrador José Luiz Majolo resolveu, aos 53 anos, que queria trabalhar com sustentabilidade. Ainda no banco, participou da implantação na instituição de avalição socioambiental de risco, de empréstimos socioambientais e do Real Microcrédito, e se dedicava, paralelamente, à pousada Ronco do Bugio, em uma propriedade no meio da Mata Atlântica, no interior de São Paulo.

Nos dez anos que se passaram desde então, Majolo criou duas empresas na área de química verde, a Terpenoil e a Ambievo, que vêm inovando nas áreas de produtos da biodiversidade voltados para limpeza de superfície e descontaminação de solo. O empresário contou essa aventura no seminário “Empreendedorismo e empresas com propósito”, realizado na semana passada para marcar o lançamento da Cátedra Economia e Meio Ambiente do Instituto Escolhas no Insper. A iniciativa, parceria entre o Instituto Escolhas e o Insper, tem o objetivo de promover iniciativas que aliem questões socioambientais à abordagem das ciências econômicas.

Ao contar sua história, Majolo mostra que nunca é tarde para empreender e que é possível criar uma empresa com propósito mesmo em negócios tracionais, como a hotelaria. “É preciso ousar e ter uma gama de valores, mas tendo em mente que é negócio e que vai dar dinheiro”, diz. Entre os valores que norteiam os projetos do empresário estão “viver sem destruir o futuro, lucrar sem transgredir a ética e respeitar o entorno e a comunidade”.

Para seguir esses princípios, Majolo lembra que é preciso fazer muitas escolhas e buscar soluções diferenciadas. Ao construir a pousada, no meio de uma área preservada de Mata Atlântica, optou por um projeto que não movimentasse terra nem desmatasse, e foi buscar material de demolição de antigas fazendas em Minas Gerais. Doa os resíduos orgânicos para uma senhora da região, que produz adubo, e o material reciclável para uma cooperativa local. Aproveitou uma queda d´água na propriedade para implantar uma pequena central hidrelétrica, que produz 30% da energia da pousada. “Só não consegui, ainda, instalar energia solar, porque não consegui viabilidade financeira para o investimento.”

José Luis Majolo

José Luiz Majolo

Além disso, segundo o empresário, todos os funcionários são da região e garantem uma excelente avaliação no atendimento pelos clientes. “Em determinado momento, estávamos chateados por não encontrar produtos naturais para a limpeza, já que é uma região de mata, sujeita a muito fungo, bolor e insetos. Até que encontrei um pesquisador que vendia esses produtos, mas estava endividado e desistindo do negócio. Resolvi investir no projeto e criamos a Terpenoil, que produz produtos de limpeza a partir de óleo de casca de laranja, um subproduto da fabricação de suco de laranja, exportado como commodity”, conta.

A empresa atua no mercado de limpeza profissional, com uma linha totalmente biodegradável. “Levamos mais de sete anos para ter um produto que não fosse de nicho, mas com preço, qualidade e escala de mercado. Nossos clientes compram porque temos qualidade, não porque é um produto ambientalmente correto”, diz. O próximo desafio da empresa é levar produtos de limpeza em capsulas para o varejo, a partir de entrega domiciliar. “Noventa e cinco por cento da quantidade dos produtos de limpeza comercializados é água, que as pessoas têm em casa. Podemos economizar muito na embalagem”, defende.

A empresa também desenvolveu produtos para o tratamento de limpeza do ar e eliminação de odores, comercializados para uso no interior de indústrias e estações de tratamento de esgotos.

A partir dessas experiências com o terpeno da casca de laranja, os sócios da Terpenoil perceberam que o solvente desses ativos verdes era muito potente e resolveram investir no seu uso para limpar solos contaminados. A inovação resultou na Ambievo, empresa premiada pelo programa americano “Collective Genius for a Better World” (Gênios Reunidos por um Mundo Melhor, em tradução livre). O programa é uma parceria entre o Departamento de Estado dos Estados Unidos, Nasa, Nike e Agência Para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos. O objetivo da iniciativa é identificar e acelerar inovações que possam melhorar o planeta. Exatamente como a nova tecnologia desenvolvida no Brasil.

“O Brasil pode não ser um centro tecnológico no mundo, mas temos produtos da biodiversidade e podemos usar coisas fantásticas que estão sendo queimadas ou jogadas fora”, defende o empresário.

Difusão e pesquisa

Impulsionar experiências como a de José Luiz Majolo, a partir de estudos econômicos que possam ajudar nas escolhas de modelos de políticas públicas e de investimentos, está entre os desafios da Cátedra Economia e Meio Ambiente.  A iniciativa visa a ampliar o número de estudos que abordem a complexidade dos temas ambientais de forma objetiva, estabelecendo pontes de diálogo entre diferentes saberes que são vitais para a superação dos dilemas inerentes aos processos de desenvolvimento do país. “A Cátedra é uma excelente oportunidade para formarmos uma geração de economistas habilitados a participar do debate sobre a construção de um futuro sustentável para o Brasil”, disse Marcos Lisboa, presidente do Insper.

Jos

Com ações de estímulo à cooperação entre instituições brasileiras e estrangeiras, a jovens pesquisadores e ao ensino, “a Cátedra pretende não apenas fomentar a pesquisa e formação no tema de meio ambiente e economia, mas também aproximar as pesquisas acadêmicas do debate atual sobre questões ambientais”, diz a diretora científica do Escolhas, Lígia Vasconcellos.

Para 2017, está previsto o oferecimento de um curso no Insper, voltado para profissionais e alunos da área de economia (aberto a todos interessados, com pré-requisitos específicos). A matéria, ministrada pelo economista Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, terá como tema questões de tributação na área ambiental. Além desta, deverão ser oferecidas mais duas cadeiras com especialistas internacionais.

Além disso, deverá ser lançado, dia 16 de dezembro, durante o Encontro Anual da Sociedade Brasileira de Econometria, em Foz do Iguaçu (PR), o edital do Programa de Bolsas, voltado a estimular jovens estudantes (mestrandos e doutorandos) à pesquisa sobre as questões socioambientais contemporâneas a partir da abordagem das ciências econômicas. Para o evento, a Cátedra promoverá, durante o congresso, uma mesa com a presença de Timo Goesch, da Universidade de Heildelberg (Alemanha) e Eduardo Souza Rodrigues, da Universidade de Toronto (Canadá), que abordarão questões ligadas a economia, políticas públicas e meio ambiente.

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