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Por Instituto Escolhas

03 novembro 2016

5 min de leitura

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Empresas começam a cumprir metas de proteção de florestas

Entre 84% e 87% de 600 empresas identificam se suas operações estão pondo florestas em risco, constata relatório

Na véspera da entrada em vigor do Acordo de Paris, relatório divulgado por uma coalizão de organizações de pesquisa e think tanks constatou que empresas do mundo inteiro começaram a cumprir suas promessas de eliminar a destruição de florestas da cadeia de abastecimento. O relatório, que analisa 600 empresas produtoras de bens primários como óleo de palma, madeira, gado bovino e soja, mostra que 415 delas assinaram mais de 700 compromissos envolvendo a cadeia de abastecimento. Contudo, a maioria desses compromissos não tem prazo para o seu cumprimento e o progresso na sua implementação não é uniforme.

O documento faz parte de um esforço de diversas organizações – entre elas World Resources Institute (WRI), Forest Trends e Rainforest Alliance – para acompanhar o progresso em relação às dez metas estabelecidas na Declaração de Nova York Sobre as Florestas [New York Declaration on Forests] (NYDF), um compromisso de 190 governos, empresas multinacionais, comunidades indígenas e ONGs para reduzir pela metade o desmatamento até 2020 e erradicá-lo até 2030. Se cumpridas, as dez metas da Declaração de Nova York impediriam entre 4,5 e 8,8 bilhões de toneladas de poluição por carbono a cada ano, o equivalente às emissões atuais dos Estados Unidos.

Bens primários

O relatório concentra-se na segunda meta da Declaração de Nova York, que convoca as empresas a eliminar o desmatamento associado à produção de bens primários e produtos agrícolas. Um segundo relatório oferece uma atualização de todas as dez metas da Declaração de Nova York Sobre as Florestas. Entre 84% e 87% das empresas analisadas já identificaram se suas operações estão pondo as florestas em risco e onde isso está ocorrendo. De 56% a 70% das empresas produtoras, processadoras e atacadistas de matéria-prima, e 64% a 87% das empresas varejistas e dos fabricantes determinaram regras sobre como os produtos serão feitos e quais as matérias-primas usadas, de modo a poderem cumprir seus compromissos. A maioria das empresas emprega a certificação, quando ela está disponível e é comprovada, como estratégia para estabelecimento de recursos de produtos sustentáveis.

Dentre os bens primários, a soja e o gado bovino ainda estão em desvantagem. Enquanto que quase 60% das empresas que fornecem ou produzem óleo de palma e 53% das empresas que extraem ou processam madeira assinaram compromissos para essas mercadorias, no caso da soja foram 21% e do gado bovino, 12%. “A criação de gado de corte é uma das principais causas de desmatamento, mas é difícil para o setor firmar compromissos, pois as cabeças de gado passam das mãos de uma empresa para outra. Ligar o desmatamento a um animal em particular é extremamente difícil”, disse Charlotte Streck, cofundadora e diretora da Climate Focus, organização que liderou a elaboração do relatório.

Entretanto, o Brasil fez alguns avanços para remover o desmatamento da produção de carne de boi e de soja, informa o relatório, através de colaborações entre produtores, o governo e as ONGs. No estado do Pará, por exemplo, quase 90% dos abatedouros inspecionados pelo governo federal assinaram acordos com o Greenpeace nos quais eles se comprometem a evitar comprar gado de fazendas de criação que contribuam para o desmatamento. E a Moratória da Soja brasileira é uma iniciativa pública e privada que levou a reduções drásticas do desmatamento.

Perfil das empresas

Mais de 90% dos compromissos vêm de empresas que buscam matéria-prima ou produzem essas mercadorias primárias em pontos de atividade intensa de desmatamento no Sudeste Asiático, da América do Sul e do Oeste da África. Desses compromissos, 32% tem por objetivo o Brasil, 32% concentram-se na Indonésia, 26%, na Malásia e 10%, no Paraguai.

Significativamente, as empresas que operam mais perto do solo florestal, como as empresas de extração, processamento e venda no atacado, não firmaram tantos compromissos quanto empresas mais próximas do mercado, como as fábricas e os comerciantes varejistas.  Apenas 17% dos produtores, 20% das empresas processadoras e 13% dos atacadistas firmaram compromissos, ao passo que 67% das fábricas e 30% dos varejistas se comprometeram a contribuir. As empresas produtoras de óleo de palma do Sudeste Asiático e as empresas de processamento de carne bovina do Brasil são exemplos de comprometimento empresarial dos estabelecimentos próximos à fonte dos produtos.

Cerca de um terço das empresas entrevistadas têm um sistema para monitorar a conformidade ao longo de toda a cadeia de abastecimento. Esse sistema inclui mapeamento por satélite que fornecem informações atualizadas e rapidamente revelam fontes de desmatamento. Metade das empresas examinadas, no entanto, não divulga ao público suas vitórias, nem seus obstáculos na adesão a suas políticas de sustentabilidade.

Segundo o relatório, os governos, em particular, são essenciais para ajudar as empresas a cumprir seus compromissos de erradicação do desmatamento. As empresas entrevistadas afirmaram que o planejamento ruim do uso da terra, a fiscalização e os sistemas de monitoramento insuficientes tornam difícil para elas atingir seus objetivos. Algumas empresas estão preferindo trabalhar apenas com aqueles países que demonstraram comprometimento com a eliminação do desmatamento. Em 2015, por exemplo, a Unilever e a Marks & Spencer comprometeram-se a importar matéria-prima dos 50 países com florestas tropicais que estão se esforçando para reduzir o desmatamento e a degradação das florestas (REDD+), uma política incluída no Acordo de Paris.

Enfrentar o desmatamento na Indonésia e no Brasil, concluiu o relatório, é algo que precisa ser feito com urgência, devido a um súbito aumento dos incêndios florestais na Indonésia, associado com a produção de óleo de palma e de madeira, e a uma recente intensificação do desmatamento no Brasil, devido à produção de soja e de gado de corte.

 

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