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Por Instituto Escolhas

27 fevereiro 2019

6 min de leitura

Investimento em energias renováveis aumenta o PIB do Nordeste

Bolsista da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente defende tese de doutorado na ESALQ (USP) a partir de análises de cenários econômicos previstos no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2026) onde foi possível obter resultados que comprovam que a expansão das energias renováveis (eólica / solar) traz ganhos econômicos para o Nordeste.

Tiago Barbosa Diniz, bolsista da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente (ano 2018), defendeu no dia 26 de fevereiro sua tese de doutorado intitulada Impactos econômicos e regionais dos investimentos em geração de energia elétrica no Brasil na ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo – USP, sob orientação do Prof. Dr. Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho (LES-ESALQ/USP).

O trabalho realizou uma avaliação dos impactos econômicos e regionais dos investimentos em geração de energia elétrica, tomando como base os cenários de planejamento da expansão da capacidade instalada previstos no PDE 2026.

O PDE 2026 é o documento elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que apresenta para a sociedade e investidores a visão de futuro do Governo Brasileiro para o setor energético no horizonte dos próximos 10 anos. No PDE estão as diretrizes e considerações oficiais no que diz respeito à eficiência energética, à demanda por energia e eletricidade, à oferta de combustíveis e eletricidade, às estimativas de investimentos e análise socioambiental da matriz energética planejada.

De acordo com o PDE 2026, em razão das metas assumidas pelo Brasil perante o Acordo do Clima de Paris, está prevista a expansão das fontes renováveis para 28% a 33% da matriz energética em 2030, além da hidroeletricidade. Mais especificamente, o país pretende elevar a participação das fontes eólica, biomassa e solar para ao menos 23% da geração de energia elétrica em 2030 (BRASIL, 2015).

Na tese, Tiago estabeleceu uma linha de base, descrevendo o que seria uma trajetória “natural” da economia e da oferta de eletricidade, e cenários alternativos ou de políticas que incorporam as diretrizes governamentais para a matriz elétrica. Foi utilizado um modelo regional computável de equilíbrio geral, o TERMBR10, que contém um módulo específico para as simulações com o setor elétrico.

Os resultados mostram que, no período 2016 a 2035, o cenário 1, no qual há a expansão de eólica e solar (1.000 MW/ cada) o PIB aumenta 0,12%. A maior parte desta elevação do nível da produção ocorre nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte.

No caso do cenário que conta com uma redução no custo da fonte solar, o crescimento do PIB seria de 0,45% em relação ao cenário base. Neste caso, a maior expansão do salário real na região nordeste ocorreria nos estados de Ceará e Rio Grande do Norte (2,59%) e Pernambuco, Paraíba e Alagoas (2,24%).

O doutorando contou com o apoio do Instituto Escolhas, cujo programa de Bolsas tem o patrocínio do Banco Itaú. Além do orientador, participaram também da banca avaliadora os professores Angelo Costa Gurgel (EESP/FGV), Cárliton Vieira dos Santos (PPGEco/UEPG) e Marcelo Pereira da Cunha (IE/Unicamp).

Confira agora a entrevista que realizamos sobre o trabalho defendido que em breve estará disponível aqui no site.

Instituto EscolhasSua tese analisa como os cenários regionais de expansão energética traçados pelo Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) impacta as economias locais. Quais são os resultados?

Tiago Diniz – A tese utilizou a informação sobre a expansão das energias renováveis para determinadas regiões contemplada no planejamento energético do país. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) vem fazendo isso com bastante maestria e inclusive trazendo inovações no PDE que são cenários regionais, onde verificamos essas características de fontes renováveis serem distribuídas para regiões do Brasil com aptidão. A pesquisa partiu desse ponto (distribuição regional de investimentos na expansão da matriz – PDE 2026), e calculou os impactos econômicos, basicamente o nível de produção e o emprego nas regiões brasileiras. Os resultados mostram que os efeitos no produto e emprego são bastante diferenciados entre as regiões.

A maior parte da região nordestina, por exemplo, teve um favorecimento em termos de ganhos econômicos e empregos em um cenário que possuía uma maior expansão da fonte solar. No caso do cenário sem novas hidrelétricas percebemos que as regiões ao sul do país (Bacia do Paraná) foram mais prejudicados porque não tinham muito o perfil para a expansão da matriz elétrica.

Banca celebra o sucesso do trabalho

Instituto EscolhasQual a metodologia que possibilita verificar estes efeitos regionais?

Tiago Diniz – Para o desenvolvimento da tese nós utilizamos o modelo computável de equilíbrio geral (TERM-BR10), uma metodologia já bastante utilizada pelo mundo afora e consolidada. A partir disso desenvolvemos um modelo regional representativo das 27 unidades da federação. Nossa análise é dinâmica e permite que façamos essa avaliação ao longo do tempo tendo como base um programa de investimentos, conseguindo colocar hipoteticamente os recursos onde de fato eles serão realizados e traçar esses impactos locais e nacionais. Assim é possível evidenciar um desdobramento econômico dessa expansão da matriz elétrica que está prevista no plano.

Instituto Escolhas – Há algumas estimativas de ganho no PIB do Brasil com os cenários traçados para a expansão? É possível dizer qual fonte teria um cenário mais favorável?

Tiago Diniz – Sim, há estimativas de ganho de PIB real para o país. Quando comparamos o que seria a trajetória natural de evolução dos investimentos no setor elétrico, face a uma maior inserção da fonte solar verificamos que há ganhos de PIB e empregos com essa expansão, o que também é verificável no cenário de referência da EPE. Além disso, outra conclusão a que chegamos é que um cenário sem novas hidrelétricas não traria prejuízos econômicos à nação. É possível então, fazer essas inferências. E para citar qual fonte seria mais favorável, não entramos no mérito de avaliar as fontes isoladamente, mas sim a expansão da matriz elétrica como um todo, pois não seriamos capazes de precisar isso. O cenário que possui uma maior parcela dessas energias renováveis tem ganhos econômicos maiores em comparação a uma trajetória natural sem tamanha expressividade.

Instituto EscolhasÉ possível dizer como as famílias de baixa renda poderiam ser beneficiadas com uma expansão na capacidade de geração de energia com fontes renováveis?

Tiago Diniz – A maior parte das energias renováveis (eólica e solar) têm maior potencial para o Nordeste onde está localizada a maior proporção de famílias de baixa renda. Então, com exceção da fonte de hidrelétrica que tem muitas especificações, a expansão dessa matriz de renovável por si só já privilegia fontes que trarão impactos positivos para essas regiões e as famílias que lá vivem. Benefícios como a geração de emprego e renda, a participação na cadeia de serviços, comércio e diversas atividades que contribuem com o desenvolvimento da região.

Natália Nunes, Coord. Científica do Escolhas, conversa com Tiago após a defesa

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