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Notícias da Cátedra


Por Instituto Escolhas

20 março 2019

11 min de leitura

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Escolhas seleciona bolsistas no 3º edital da Cátedra de Economia e Meio Ambiente

Conheça um pouco mais sobre os temas selecionados

É com muita satisfação que o Instituto Escolhas divulga os selecionados para o seu terceiro edital do Programa de Bolsas da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente.

Este é o terceiro edital do Programa de Bolsas que já apoiou 11 pesquisas nas suas duas primeiras edições. Para a avaliação dos projetos inscritos no edital, que é público e amplamente divulgado, o Instituto Escolhas reuniu uma banca avaliadora composta por Rudi Rocha (PhD em Economia e professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas -EAESP-FGV), Sandra Paulsen (doutora em Economia e pesquisadora do Ipea), ambos integrantes do Conselho Científico do Escolhas, além de Marcia Taborda (Gerente de Sustentabilidade do Banco Itaú), Natália Nunes (doutora em Economia e coordenadora científica do Escolhas) e Sergio Leitão (diretor executivo do Escolhas) no dia 25 de fevereiro.

Foram no total seis alunos de pós-graduação selecionados, sendo três estudantes de mestrado e outros três de doutorado. As pesquisas tratam de temas relacionados às mudanças climáticas, aos impactos do rompimento da barragem de Mariana na saúde da população local, à mensuração de empregos verdes no país, à governança climática e compromissos do país acordados para a redução de carbono e ao desmatamento e recuperação florestal no estado de São Paulo.

Reunião de apresentação do programa de Bolsas aos alunos

Para Sérgio Leitão, essa é uma importante iniciativa para fomentar a pesquisa no Brasil com o foco em temas que podem dar suporte a boas decisões políticas no futuro, com geração de conhecimento na área ambiental e econômica do país. “A razão da fundação do Escolhas responde o motivo desse programa de bolsas. O Escolhas quer levantar dados, informações que possam embasar o debate público sobre as principais decisões que o país precisa tomar. Para os temas de economia e meio ambiente faltam bons números e estudos que possam permitir uma discussão ampla em prol de soluções, amparada em evidências empíricas para encontrar novos caminhos”, afirmou. Com essa terceira nova turma o programa já soma 17 bolsistas ao todo.

Projetos Selecionados

Doutorado

André Luiz Campos de Andrade

 

Entre os projetos de doutorado, a pesquisa de André Luiz Campos de Andrade, da Universidade de Potsdam/Alemanha, aborda como órgãos do governo brasileiro participam da governança climática na promoção de políticas que utilizam a matriz energética de baixo carbono. As responsabilidades da política de mudança climática são geralmente atribuídas aos Ministérios do Meio Ambiente e / ou Energia em todo o mundo. Seu trabalho adota uma abordagem de economia política e mostra como as alianças são estabelecidas e quais são as restrições políticas e institucionais que impedem a ação climática de avançar nas prioridades de desenvolvimento do Brasil, respondendo principalmente qual tem sido o papel do centro de instituições governamentais na formulação, coordenação e harmonização de políticas de transição de baixo carbono.

André, que não pode comparecer à reunião de boas vindas em virtude de morar fora do Brasil, pretende estruturar sua pesquisa em dois momentos. O primeiro vai examinar a economia política da mudança climática usando o conceito de “feedback” de política como uma estrutura analítica, uma vez que há o entendimento de que políticas públicas anteriores podem ter efeitos políticos que remodelam instituições e outras políticas no futuro. Já o segundo momento da pesquisa, o bolsista pretende realizar uma avaliação do desempenho do governo dentro do contexto de governança climática utilizando a metodologia criada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para analisar a eficiência do governo adaptada para o contexto da política climática. Em suma, o bolsista quer compreender até que ponto a governança climática é definida com base nesse histórico que as políticas climáticas geram.

Keyi Ando Ussami – foto Marçal Neto

A transição florestal no estado de São Paulo é o tema da pesquisa de Keyi Ando Ussami, do Instituto de Pesquisas Econômicas – IPE/USP. Seu objetivo é avaliar a relação entre a variação no desmatamento e a recuperação florestal de acordo com as mudanças institucionais no recorte de tempo entre a década de 1960 até 2010. A tese contempla três análises em períodos distintos, sendo que a primeira delas refere-se ao efeito da construção das usinas hidrelétricas de grandes reservatórios (construídas no estado no período entre 1962 e 1971/1973) sobre o desmatamento observado no período. A segunda análise avaliará o efeito de um conjunto de políticas de preservação do meio ambiente conduzidas a partir de 1990 de forma heterogênea no território paulista. Como por exemplo, o efeito da criação da legislação federal de proteção à Mata Atlântica combinada com a atuação da Fundação SOS Mata Atlântica no ano de 1990 sobre o processo de desmatamento/recuperação florestal do estado. Aqui também está incluída uma análise sobre a criação de uma legislação estadual de preservação voltada exclusivamente para o bioma de Cerrado no ano de 2009.

Já a terceira análise avalia o impacto da criação das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) sobre a preservação do meio ambiente. As APAs são Unidades de Conservação (UC) de Uso Sustentável, sendo que suas restrições quanto aos usos dos recursos naturais são as mais brandas dentre todas as UCs. Vale lembrar que os mapeamentos de cobertura vegetal em grandes áreas só passaram a se popularizar a partir do uso de imagens de satélite que se tornaram disponíveis a partir de meados da década de 1970, o que indica a relevância da pesquisa.

Henrique dos Santos Maxir

Henrique dos Santos Maxir, doutorando de Economia da ESALQ-USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”), aborda as políticas de combustíveis no Brasil e os efeitos no bem-estar social e das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). O setor de combustíveis brasileiro experimentou mudanças nos últimos anos e por esse motivo o bolsista quer investigar a coexistência de combustíveis fósseis e mercados de biocombustíveis em um país em desenvolvimento como o Brasil. Sua hipótese parte de uma análise histórica apontando que em meados da década de 1970, a indústria de biocombustíveis, principalmente de etanol obtido a partir da cana-de-açúcar, começou a ser estruturada como resultado da necessidade de substituição de combustíveis fósseis. Já 1990, o monopólio da Petrobras na indústria de petróleo foi rompido e o mercado de etanol foi desregulamentado. Em 2017, o governo aprovou a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), uma política que visa ampliar a produção de biocombustíveis e contribuir para a redução das emissões de GEE.

A pesquisa do Henrique avalia o efeito da política da Petrobrás sobre o bem-estar de consumidores e a perda advinda das distorções de preço na economia. Além disso, aborda também os impactos do Programa RenovaBio sobre o bem-estar social, somado à avaliação da potencialidade da redução das emissões. Para isso ele irá desenvolver uma análise sobre os mercados brasileiros de fósseis e biocombustíveis com base nas atuais leis e políticas desses setores, estruturando um modelo matemático.

Mestrado

Bruno Proença

Em relação aos mestrandos selecionados, Bruno Proença Pacheco Pimenta, também Instituto de Pesquisas Econômicas – IPE/USP, desenvolve dissertação sobre as mudanças climáticas e as secas no Brasil através de análise espacial integrada a partir de Modelos Inter-regionais de Equilíbrio Geral Computável (IEGC) e Monitoramento Climático no Semiárido Brasileiro. O bolsista vai avaliar o impacto das secas nessa região, bem como a migração e bem-estar da população, com o foco na vulnerabilidade socioeconômica e ambiental da mesma. A proposta é avaliar o impacto de secas para fins de auxiliar a formulação de políticas públicas de adaptação e mitigação, uma que vez que o aquecimento da atmosfera decorrente da maior concentração de gases de efeito estufa está provocando uma aceleração do ciclo da água, o que pode tornar eventos extremos mais frequentes, tais como secas e inundações.

Neste tipo de modelo (IEGC) que será adotado pelo bolsista, a economia é descrita como um sistema de equações, em que consumidores buscam maximizar seu bem-estar, produtores pretendem aumentar seu lucro, assim como os investidores pretendem aumentar seu retorno e cada um desses atores está sujeito a restrições, sendo que cada setor da economia é interligado a outros por meio de compras e vendas. Sabemos que mudanças climáticas não ocorrem de forma homogênea ao redor do globo, por isso o trabalho de Bruno Pimenta é relevante porque busca compreender como uma região específica será potencialmente afetada. Nesse caso, o Semiárido, que abrange 86% do interior do território nordestino e parte da região ao norte de Minas Gerais, com sua população de 23 milhões de pessoas (Censo 2017) também conhecida como a região seca mais populosa do mundo. No futuro esta região que já é vulnerável, ficará ainda mais suscetível a diversas mazelas climáticas, pois um aumento de temperatura poderá deixar as localidades que sofrem com déficit hídrico ainda mais secas e a curta estação chuvosa poderá desaparecer, algo que afeta drasticamente a economia local.

Liz Matsunaga

Os impactos do desastre de Mariana – MG com o vazamento da lama de rejeitos da mineração nos municípios da Bacia do Rio Doce é o tema da pesquisa de Liz Matsunaga, também do IPE – USP. Ela pretende construir um panorama mais abrangente das consequências do rompimento da barragem em 2015, analisando a relação causal entre o desastre e aumento de doenças relacionadas à qualidade da água, do ar, doenças causadas por vetores e doenças mentais; bem como investigar se houve aumento do alcoolismo e violência doméstica nos municípios afetados diretamente pelo acidente, no âmbito de doenças mentais/psicológicas.  Para isso, a pesquisadora vai quantificar os impactos socioeconômicos do rompimento da barragem nas populações que viviam às margens dos rios afetados.

O impacto do carreamento dos rejeitos afetou 663,2 km de corpos hídricos, causando a destruição de 1.469 hectares ao longo de 77 km de cursos d’água, incluindo áreas de preservação permanente (IBAMA, 2015). Foram afetados diretamente 35 municípios, que abrigam aproximadamente 1,1 milhão de pessoas, 5,3% do contingente populacional de Minas Gerais. A hipótese é de que mudanças abruptas no ambiente econômico de comunidades podem causar importantes mudanças no tecido social. A dissertação vai comparar os grupos tratado e controle, bem como o antes/depois do rompimento da barragem de Fundão, considerando grupo tratado os municípios que estão às margens dos rios no percurso da lama e grupo controle os municípios que não foram atingidos pela lama, tendo como base a localização geográfica, PIB, atividades socioeconômicas e outras características.

Paulo Eduardo Braga

Por fim, Paulo Eduardo Braga Pereira Filho, da Economia ESALQ-USP, mensura os empregos verdes no Brasil em sua dissertação, por meio de análise da Matriz Insumo Produto (MIP), teoria que permite a identificação da interdependência das atividades produtivas no que concerne aos insumos e produtos utilizados e decorrentes do processo de produção, analisando alguns cenários de crescimento desses empregos. Em outras palavras, a MIP descreve o fluxo de bens e serviços entre os setores de uma economia, durante um período de tempo, o que torna possível analisar a interligação entre os setores da economia. Uma das vantagens de utilizar a análise insumo-produto é que através dela será possível estimar os multiplicadores de produto e emprego para cada setor.

 Em um ambiente econômico em que todos trabalham para aumentar a qualidade ambiental, reduzir a poluição, aumentar a eficiência energética e proteger o ecossistema, os empregos dessa sociedade podem ser caracterizados como empregos verdes. Porém, para desenhar políticas que influenciam no desenvolvimento de setores econômicos que sejam sustentáveis é uma tarefa difícil para todos os países. Mas nos países em desenvolvimento essa tarefa é ainda mais dificultosa devido à escassez de informações e à alta informalidade no mercado de trabalho, como é o caso brasileiro. Mensurar a geração desses empregos durante o processo de construção do crescimento econômico é importante para nortear e assessorar a criação de políticas setoriais. Paulo quer identificar os setores com potencial de geração desses empregos verdes; construir a Matriz Insumo Produto verde, a partir da MIP 2015 e estimar o crescimento dos empregos verdes para o futuro em seus objetivos acadêmicos.

A Cátedra

O Programa de Bolsas da Cátedra Escolhas de Economia e Meio Ambiente, lançado em 2016 e patrocinado pelo Itaú, tem como finalidade incentivar a formação de profissionais que desenvolvam pensamento crítico e pesquisa de excelência sobre as questões socioambientais contemporâneas, a partir da abordagem das ciências econômicas e mediante a concessão de bolsas a alunos de mestrado e doutorado com destacado empenho acadêmico. O edital de seleção é público e a seleção dos contemplados sempre é realizada por meio de uma banca formada por professores e especialistas convidados.

Doutorado

1 – André Luiz Campos de Andrade

Instituição: Universidade de Potsdam/Alemanha

Orientador: Harald Fuhr

Título do Projeto: Governança climática: o papel do centro de governo na promoção de transições de baixo carbono

2- Henrique dos Santos Maxir

Instituição: Economia ESALQ-USP

Orientadora: Mirian Rumenos Piedade Bacchi

Título do Projeto : Políticas de Combustíveis no Brasil: Efeitos no bem-estar social e Emissões de Gases do Efeito Estufa

3 – Keyi Ando Ussami

Instituição: IPE – USP

Orientador: Ariaster Baumgratz Chimeli

Título do Projeto: Transição florestal e instituições: evidências dos últimos 50 anos no estado de São Paulo

Mestrado

1- Bruno Proença Pacheco Pimenta

Instituição: IPE – USP

Orientador: Eduardo Amaral Haddad

Título do Projeto: Mudanças Climáticas e Secas no Brasil: Uma Análise Espacial Integrada a partir de Modelos IEGC e Monitoramento Climático no Semi-Árido Brasileiro

2- Liz Matsunaga

Instituição: IPE – USP

Orientador: Ariaster Baumgratz Chimeli

Título do Projeto: Lama e Sociedade: Impactos do Desastre de Mariana (MG) em Municípios da Bacia do Rio Doce

3- Paulo Eduardo Braga Pereira Filho

Instituição: Economia ESALQ-USP

Orientador: Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho

Título do Projeto: Mensuração dos empregos verdes no Brasil: uma análise via matriz insumo produto

Para conhecer mais dos bolsistas, acesse a playlist completa no Youtube

Desejamos sucesso a todos em suas pesquisas!

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