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Por Instituto Escolhas

23 maio 2019

5 min de leitura

Transporte público perde usuários em todo o mundo

Parece ser uma tendência mundial: o transporte público está perdendo usuários nas principais metrópoles. Em Nova York, maior cidade dos EUA, a rede pública deixou de levar, em média, 176 mil passageiros por dia, entre 2017 e 2018. Em Londres, terra dos famosos ônibus vermelhos e do metrô mais antigo do mundo, a redução foi de 106 mil viagens no mesmo período. De acordo com matéria da Folha de São Paulo veiculada no dia 21 de maio, que também levanta os dados da APTA (Associação do Transporte Público Americano), o índice de redução dos usuários transportados nas cidades dos EUA foi de 2% em 2018 se comparado a 2017. Em Los Angeles, houve 37 mil viagens diárias a menos, em média. Chicago (31 mil) e Washington (29 mil) também tiveram baixas.

Nos EUA, a prática de home office – quando o trabalhador tem horários flexíveis e/ou trabalha em casa – e os aplicativos de transporte como Uber são apontados como possíveis causas para esse fenômeno. O Instituto Escolhas, em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS) e a Ideia Big Data lançou, ainda em 2017, a pesquisa de opinião Mobilidade Urbana e Baixo Carbono, de abrangência nacional, para levantar informações sobre mobilidade urbana, novos modais e tempos de deslocamento dentro das cidades. Os dados levantados indicam que 49% da população que usa aplicativos de transportes, antes adotava o transporte coletivo.

Segundo a matéria da Folha, a falta de usuários coloca as empresas de transporte em queda de recursos. Com menos usuários, circula menos dinheiro em caixa. Para não ter mais prejuízos, a saída costuma ser eliminar linhas, diminuir a frequência dos coletivos e investir menos em renovação da frota, o que prejudica bastante a prestação do serviço, tornando-o ruim e afastando ainda mais passageiros, escreveu Rafael Balago em seu texto. Para se ter uma ideia, a pesquisa do Instituto Escolhas mostrou que a locomoção nas cidades por meio de aplicativos foi a opção de 32% dos entrevistados pelo menos duas vezes por semana, contra 57% de ônibus e 19% de trens e metrôs.

 

Ônibus é o mais afetado

De acordo com o jornal, dentre os modais que mais caíram na preferência dos usuários, o ônibus é campeão. No Brasil, os ônibus urbanos perderam 17% dos usuários que tinham entre 2012 e 2017, segundo a NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos. Um dado interessante verificado no estudo do Instituto Escolhas é que no quesito Mobilidade Urbana, a primeira palavra que os entrevistados respondem relacionada a transporte público é ônibus (29%), em seguida as palavras que surgem são: péssimo, ruim, precário.

Já a ideia relacionada ao carro é a de conforto, necessidade e congestionamento. Embora a maior parte das respostas apontem também para uma relação direta entre carros, alto custo financeiro e poluente. No entanto, no Brasil, a dependência do automóvel ainda é considerável. Apenas nove estados e o DF possuem trens, metrô ou bondes VLT.

Os dados da pesquisa Origem Destino do Metrô, realizada em São Paulo a cada 10 anos e divulgada também pelo jornal em dezembro último, também corroboram com essa tendência ao apontar como a população da região metropolitana paulista se locomoveu no período entre 2007 e 2017. A locomoção por meio de ônibus perdeu espaço entre os usuários; a participação deles recuou de 24%, em 2007, para 21%, em 2017. Houve crescimento dos modais ferroviários na escolha de grande parte da população (metrô e trens), ao passo que o uso do automóvel particular permaneceu estático em números absolutos, crescendo a utilização de aplicativos como Uber, 99, Cabify, etc, que já soma 362 mil viagens por dia.

A Universidade de Kentucky afirmou com dados publicados em agosto que a chegada dos apps levou a uma queda de 1,3% no uso de trens e metrô e de 1,8% no de ônibus, a cada ano. A pesquisa levou em conta dados de 25 cidades estadunidenses. Em Nova York, em apenas três anos (2015-208), o total de viagens feitas por aplicativos subiu de 60 mil para 600 mil por dia.

Metrô Berlim

Alternativas

Algumas cidades já estão promovendo iniciativas para lidar com o problema da perda de passageiros e falta de recursos financeiros que ela gera. Alguns adotaram a aplicação de novas taxas aos usuários de carro, como é o caso de Nova York, que aprovou em abril o pedágio urbano para financiar a expansão do metrô, a fim de desonerar seus passageiros. Trata-se da chamada “taxa de congestionamento”, na área central de Manhattan. Há ainda em fase experimental a oferta de viagens por demanda, quando o usuário avisa por um aplicativo para onde deseja ir, antes de se dirigir ao ponto de embarque, onde passará uma van ou um ônibus que leva apenas passageiros que reservaram a viagem antes. Assim evita-se que os ônibus circulem sem necessidade onde não há demanda de passageiros (rota maleável). Os testes com esse formato, segundo a matéria da Folha, estão sendo feitos em Londres, Goiânia e São Bernardo do Campo, ainda em pequena escala.

Enquanto isso, a saída é investir em integração entre os modais. A Alemanha condicionou a liberação de recursos para as cidades se os projetos em mobilidade estiverem integrados, com uma governança que possa dialogar sobre essa implantação.

Sergio Leitão, diretor executivo do Escolhas, explica que a situação é grave. “As ruas das cidades não vão comportar todos os transportes individuais, o transporte público depende do pagamento das tarifas e dos subsídios, logo, o que está acontecendo pode gerar um problema de sustentabilidade financeira. É preciso ter consciência que não é a solução individual que resolverá o problema da mobilidade nas grandes cidades. Mas sim mais transporte público de qualidade”, disse ele.

A pesquisa do Escolhas, iCS e Big Data foi adaptada de versão americana promovida pela Oil Transportation Research and Intelligence Network sobre petróleo, combustíveis para transporte e meio ambiente e mostra que o desejo de melhoria no transporte público é unanimidade nacional.

Leia a pesquisa Mobilidade Urbana e Baixo Carbono na íntegra

Com informações da Folha de S.Paulo

 

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