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Por Instituto Escolhas

21 maio 2020

5 min de leitura

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“Estudo sugere reavaliar papel do gás na transição da matriz” é a manchete do Canal Energia sobre mais novo trabalho do Escolhas

“A expansão da participação de termelétricas movidas a gás natural na matriz elétrica brasileira está cercada por incertezas e fatores de riscos. O maior desses riscos é o do aumento das emissões de GEE pelo setor elétrico, um claro retrocesso na transição para zerar as emissões do setor”, conclui o Texto para Discussão “Energia elétrica do futuro: qual o lugar do gás na terra do Sol e do Vento”, lançado pelo Instituto Escolhas.

O trabalho é abordado em matéria exclusiva do Canal Energia.

Confira a íntegra

Canal Energia – EXPANSÃO & PLANEJAMENTO –

Estudo sugere reavaliar papel do gás na transição da matriz

Instituto Escolhas defende decisão racional sobre investimentos, para evitar impactos na limitação de renováveis

SUELI MONTENEGRO, DA AGÊNCIA CANALENERGIA, DE BRASÍLIA

Os efeitos da pandemia do coronavírus ampliaram incertezas já existentes em relação à viabilidade econômica de investir todas as fichas na exploração de gás natural no Brasil, e é necessário repensar de forma racional qual será o papel do energético na transição para uma matriz mais limpa. A recomendação é feita em estudo elaborado pelo Instituto Escolhas, que aponta a ausência de uma avaliação do custo do investimento necessário para viabilizar a infraestrutura no Brasil, diante de um cenário que antes mesmo da crise atual já apontava para o excesso de oferta e a queda dos preços internacionais do gás no mundo.

“Em um contexto de crescente pressão dos agentes econômicos para ampliar a exploração do gás natural no país e do entendimento de que caberá ao setor elétrico absorver parte significativa dessa expansão, é importante que se possa discutir o impacto dessa medida, em especial na limitação da oferta das fontes renováveis”, aponta documento da instituição.

Essas pressões internas, segundo o Instituto, estão expressas no programa do Novo Mercado de Gás e no Plano Decenal de Energia 2029, que destaca a importância das térmicas a gás na expansão da matriz elétrica. Na versão do PDE divulgada pelo Ministério de Minas e Energia as térmicas representarão mais de um terço (23 GW) dos 60 GW em expansão da capacidade instalada de geração projetada para os próximos dez anos, considerando novos projetos e o retrofit de UTEs existentes.

O plano decenal considera a possibilidade de que o preço internacional do Gás Natural Liquefeito (GNL) usado em termelétricas no país permaneça mais competitivo que grande parte do gás produzido internamente, o que ampliaria o risco do investimento em infraestrutura. Para o Instituto Escolhas, além desse fator, existe a questão da própria viabilidade econômica do preço da energia gerada pelas térmicas a gás, além da questão ambiental.

“A expansão da participação de termelétricas movidas a gás natural na matriz elétrica brasileira está cercada por incertezas e fatores de riscos. O maior desses riscos é o do aumento das emissões de GEE pelo setor elétrico, um claro retrocesso na transição para zerar as emissões do setor” afirma o texto.

Para o diretor executivo da entidade, Sérgio Leitão, se antes da crise sanitária já era necessária moderação para conter a euforia dos agentes econômicos em relação aos investimentos em expansão do gás na matriz elétrica, ponderar o custo benefício tornou-se fundamental diante dos estragos econômicos causados pela pandemia.

Algumas perguntas básicas sobre custo de investimento, taxa de retorno, tempo de amortização e manutenção da atividade no horizonte de médio e longo prazos também terão de ser respondidas. Para o especialista, é importante considerar a possibilidade de que um avanço de fontes limpas de energia torne todo a infraestrutura de transporte e de processamento do gás ultrapassada.

“Isso não é uma fantasia. Nos Estados Unidos, onde já tinha estrutura [de dutos e terminais] feita e o investimento já se pagou, tem questionamento sobre em que momento essa infraestrutura lá vai _car obsoleta”, afirma Leitão. Para o executivo, o cenário de cataclisma resultante da pandemia “eleva à máxima potencia” todos os questionamentos que poderiam ser feitos antes mesmo da crise do coronavírus, quanto já havia gás sobrando no mundo e uma pressão muito forte dos Estados Unidos para que o Brasil adquirisse parte do gás que o país produz em abundância. Por isso, acrescenta, é preciso parar tudo e verificar, do ponto de vista do Brasil , qual é o investimento que vai compensar em um cenário de crise econômica, “para que país não entre em uma aventura que lhe custe muito caro e o deixe absolutamente desprovido de uma inserção no contexto das fontes energéticas que vão mover a economia do mundo” e “fora do jogo, porque fez a aposta errada, na hora errada, de uma fonte errada.”

“Esse estudo coloca essas discussões e pede do setor elétrico, do setor de óleo e gás e da sociedade uma discussão para que a gente não desperdice um investimento que vai fazer muita falta, ainda mais agora que a gente está numa crise de recursos ainda mais avassaladora do que estava no final do ano passado.”

Não se trata, segundo o executivo, de abandonar o programa do gás, mas decidir em que proporção ele fará parte da transição energética. A decisão terá de considerar o que é mais importante estrategicamente, levando em conta o custo benefício da exploração interna, o custo de importação do produto, a criação de uma eventual situação de dependência energética externa e, à luz de tudo isso, olhar as tendências no mundo em relação à mudança para uma matriz mais limpa.

Nenhum plano de governo até o momento explicita quando essa transição energética se iniciará, até quando o gás será utilizado, e o quanto será destinado a outras fontes para que o pais gere no futuro energia mais barata para a todos os setores da economia e da sociedade, critica o executivo. “O momento de repensar esse pacote é agora e o governo precisa dar uma resposta sobre o que ele está chamando de transição, porque é uma transição em que ele não aponta para onde vamos no dia depois de amanhã. E se ele não apontar isso, não tem transição. O que você vai criar é uma amarra a uma fonte que depois vai deixar o país numa posição muito vulnerável diante da competição internacional.”

Confira a integra do texto Energia elétrica do futuro: qual o lugar do gás na terra do sol e do vento.

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