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Entrevistas


Por Instituto Escolhas

03 maio 2017

5 min de leitura

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Entrevista do mês: Fernanda Estevan

“O mundo real é muito mais complicado do que o mundo do modelo teórico”

Professora do Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Fernanda Estevan acredita que o principal desafio da economia aplicada hoje é combinar o rigor necessário das análises acadêmicas – que em geral levam tempo e consomem muitos recursos – com o timing das políticas públicas necessárias para o Brasil, que não esperam. Para a especialista, o setor acadêmico brasileiro ainda não tem um grande número de pessoas que trabalham o meio ambiente de maneira rigorosa e, nesse sentido, think tanks como o Instituto Escolhas podem liderar a iniciativa de trazer mais pessoas para estudar economia ambiental. Estevan é presidente da Sociedade Brasileira de Econometria (SBE), entidade civil parceira do Instituto Escolhas que reúne professores, pesquisadores, alunos e outros profissionais interessados pelo estudo e aplicação de métodos quantitativos em economia e finanças. Em 2016, o Escolhas participou do Encontro Anual da SBE, em Foz do Iguaçu (PR), quando promoveu o lançamento do Programa de bolsas da Cátedra Economia e Meio Ambiente.

Escolhas – O que é a Sociedade Brasileira de Econometria e qual o objetivo da parceria firmada com o Instituto Escolhas?

Fernanda Estevan – A SBE quer contribuir para o desenvolvimento da ciência econômica no Brasil. Somos uma rede de acadêmicos, que estamos principalmente nas universidades, com diversos economistas e especialistas em economia que utilizam métodos quantitativos de economia em suas análises. Um dos trabalhos que temos desenvolvido são parcerias com associações, muitas vezes no estilo think tank, que estejam preocupadas com questões práticas e que também tenham como objetivo usar a ciência econômica na resolução dos problemas do mundo real. Vemos nessas parcerias uma complementaridade entre o que queremos – apoiar a ciência econômica feita não só nas universidades – e o que essas organizações têm feito na prática. Um dos nossos principais projetos é o Encontro Brasileiro de Econometria, que acontece todos os anos e se tornou um fórum no qual pessoas que trabalham com métodos quantitativos da economia se reúnem e trocam conhecimento e experiências. A sessão especial que o Instituto Escolhas organizou no encontro do ano passado foi muito positiva e essa participação é, no momento, o principal objetivo da parceria. Tenho conversado com o Instituto e pensamos em desenvolver outras maneiras de colaborar no futuro.

Escolhas – Qual o papel da econometria hoje no Brasil?

Estevan – É apresentar métodos rigorosos e pensar sobre as questões metodológicas de maneira organizada, usando dados para responder perguntas importantes do nosso mundo. Hoje temos várias teorias econômicas em diversas áreas que dão previsões sobre os fenômenos da sociedade, e essas teorias estão baseadas em hipóteses que podem se revelar importantes ou não. A econometria é esse conjunto de instrumentos fundamental para que possamos avaliar as teorias econômicas – as quais podem ser utilizadas para políticas públicas, por exemplo – e testar se elas realmente funcionam. Porém, essas avaliações precisam ser feitas de maneira rigorosa, pois o mundo real é muito mais complicado do que o mundo do modelo teórico. O lado bom é que cada vez mais gente está trabalhando com economia aplicada hoje no mundo e a vantagem disso é que conseguimos testar uma mesma teoria em diversos contextos, nos aproximando mais dos fatos.

Escolhas – Quais são os desafios quando se trata da formulação de políticas públicas baseadas em estudos econômicos?

Estevan – Um desafio grande, não só para a área ambiental, é equilibrar o timing da política pública e o dos trabalhos acadêmicos. Quando olhamos para um trabalho acadêmico rigoroso, não é incomum vermos estudiosos que trabalham até seis anos em um artigo ou base de dados. No entanto, a política pública não espera. Seis anos é mais do que o mandato de um político. Então, temos que combinar o rigor – que é necessário e que eu defendo, pois trabalhos mal feitos são usados para base de políticas e podem ter consequências dramáticas -, com o timing das políticas públicas, que é muito mais curto.

Escolhas – Como você vê a abordagem do Instituto Escolhas de buscar entender os impactos econômicos das decisões relacionadas ao meio ambiente?

Estevan – A abordagem é muito interessante. Uma das coisas que me deixou muito empolgada quando o Escolhas nos procurou é que, na academia brasileira, existem poucas pessoas que trabalham a questão do meio ambiente de maneira rigorosa. Não existe, como em outras áreas da ciência econômica, uma massa tão grande de pessoas que interajam com frequência e se interessem pela questão. No nosso encontro, costumávamos ter poucas pessoas envolvidas em um tema que é tão importante para a sociedade e que tem ganhado importância no meio acadêmico internacional. Não só é muito pertinente termos o Instituto Escolhas liderando essa iniciativa, como também é importante para a SBE tornar isso um ponto focal de pessoas que estudem economia ambiental. Nesse sentido, o Programa de Bolsas do Escolhas também é importante para se ter uma massa crítica de pessoas que estudam isso. A presença do Escolhas no encontro anual da SBE pode levar alunos a querer trabalhar com meio ambiente e ver o seu potencial.

Escolhas – Falando em educação, esse tem sido o foco do seu trabalho no meio econômico. Qual sua visão sobre a importância de trazer a economia ambiental também para o meio acadêmico?

Estevan – O meu foco de trabalho tem sido diferente da questão ambiental, mas acho que essa é uma área a ser explorada. Imagino que, para diversos problemas da nossa sociedade, a solução passa pela educação ambiental. Temos aí uma possibilidade de interação entre o pessoal que estuda economia na educação e no meio ambiente. Acredito que o Instituto Escolhas pode liderar isso e desenvolver esses estudos.

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