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Por Instituto Escolhas

24 outubro 2019

4 min de leitura

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Escolhas debate cadeia produtiva da carne

Workshop sobre próximo estudo do Instituto reuniu associações ligadas ao setor, empresas, bancos, ONGs, institutos de pesquisa e academia

Os subsídios da cadeia da carne bovina e o impacto ambiental que o setor gera tanto em emissões de carbono quanto em consumo de água são os principais focos de um estudo em andamento a ser lançado pelo Instituto Escolhas no início de 2020. A pecuária bovina é uma atividade altamente disseminada em todo o país. Além de efeitos ambientais, o segmento também gera importantes impactos econômicos (positivos e negativos) para o país.

A maior parte dos estudos sobre os impactos ambientais da pecuária nacional costuma se debruçar sobre partes específicas da cadeia de produção e, em termos geográficos, muitas vezes eles enfocam apenas determinadas regiões brasileiras, casos da Amazônia ou Cerrado. As análises econômicas sobre a indústria da carne bovina, apesar de traçarem o panorama dos principais indicadores da área, como participação no PIB e empregos gerados, não identificam o volume de estímulos governamentais recebidos pelo setor. 

Com a finalidade de preencher as lacunas de informação sobre o montante dos subsídios e dos impactos ambientais do segmento é que o Instituto Escolhas resolveu estudar, de forma aprofundada, o tema. O trabalho será dividido em duas partes. Em uma delas será discutido o quanto de carbono é lançado na atmosfera em todas as etapas da cadeia da carne e, também, o quanto de água é consumida durante a produção. Todo o ciclo de criação e engorda, o processamento em frigoríficos e instalações de processamento e ainda as operações de logística até o produto chegar ao consumidor final entrarão nos cálculos. As cinco regiões do país serão consideradas no trabalho, onde será analisado, por questões metodológicas, o período que vai de 2008 a 2017. Os dados sobre 2018 e 2019 não estão ainda disponíveis. 

No caso da pegada de carbono, o objetivo é mensurar o volume das emissões da cadeia, tanto em nível nacional  quanto nas principais regiões do Brasil, em kg de dióxido de carbono equivalente por kg de carne. Em relação ao consumo de água, o desempenho hídrico da cadeia brasileira será medido em litros de água por kg de carne. 

Sobre os impactos econômicos da atividade, o estudo levantará as estimativas da arrecadação total, do montante de renúncia fiscal e a quantia de subsídios em toda a cadeia da carne nos níveis federal e estadual. Ao final, o trabalho deve apresentar o montante de subsídios, isenções e outros benefícios fiscais por kg de carne dentro do mercado brasileiro. Espera-se estimar a participação do contribuinte brasileiro na composição do preço da carne. De acordo com Sérgio Leitão, diretor executivo do Escolhas, a motivação do estudo é produzir informações qualificadas sobre o investimento de recursos públicos na cadeia da carne bovina, garantindo transparência à sociedade e a possibilidade dela acompanhar e avaliar a aplicação destes recursos.

Para que a informação seja realmente de qualidade, e obtida por intermédio do diálogo com os vários setores, é que o Escolhas realizou no dia 22/10, em São Paulo, um workshop para debater resultados preliminares apresentados pelos autores do trabalho. 

A lista de participantes do encontro revela uma diversidade de setores e organizações. A Universidade de São Paulo, o GVces/FGV, o Insper (Centro de Agronegócio Global), a Embrapa e o IPEA que contaram com representantes no evento, que deram voz à academia e aos institutos de pesquisa. O setor privado teve representantes tanto de associações do setor, casos da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Industrializada), da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) e do GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável), quanto de empresas como a JBS e a Marfrig. Do setor financeiro esteve presente o Banco do Brasil. Integrantes de várias ONGs, como Greenpeace, WWF, IPAM e Imaflora também participaram do debate.

Segundo o economista Petterson Vale, pesquisador responsável pela parte da análise dos subsídios do setor, o tema vai ser abordado de forma essencialmente técnica. Para construir a pesquisa, Vale tem usado metodologias já consolidadas, usadas tanto pelo governo quanto pelos principais estudos econômicos do setor. A movimentação das exportações e os valores relacionados com o Funrural e com tributos como PIS/Cofins e o ITR (Imposto Territorial Rural) serão todos analisados no decorrer do trabalho.

A segunda parte do estudo, desenvolvida pela equipe da Pangea Capital, empresa especializada em mensuração e valoração de processos ambientais, envolve também uma missão complexa. O desafio de analisar as pegadas de carbono e da água da cadeia da carne bovina é grande. O setor, apesar de muitos dos produtores nacionais estarem voltados para a implementação de práticas sustentáveis no campo, ainda gera impactos negativos ao meio ambiente. São dois temas delicados, o do desmatamento e o de consumo de água, mas que precisam ser enfrentados, segundo Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e um dos participantes do workshop.

Ao demonstrar o enfoque das investigações de pegada hídrica e de carbono da pecuária, Roberto Strumpf, um dos responsáveis da equipe da Pangea, afirmou que “em um contexto de mudanças climáticas, em que a disponibilidade hídrica tende a se alterar bastante em determinadas regiões do país, como no Nordeste, a discussão do consumo de água na cadeia produtiva da carne também é de fundamental importância”.

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