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Por Instituto Escolhas

14 março 2018

5 min de leitura

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Estudo analisa descarbonização em países do BRIC

Resultados apontam conservadorismo dos países no enfrentamento das mudanças climáticas e falta de investimento em políticas de baixo carbono

A mudança climática é um dos principais desafios da atualidade. Com a crescente concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, especialmente das emissões de carbono, as mudanças no clima estão se tornando irreversíveis, provocando eventos climáticos extremos mais frequentes e o aumento da temperatura global. Trazendo o tema para o centro de discussão, o estudo Wandering decarbonization: the BRIC countries as conservative climate powers (Descarbonização errante: países do BRIC como poderes climáticos conservadores, em tradução livre) discute o papel dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) no regime climático e afirma que, apesar da responsabilidade nas emissões, eles têm sido forças conservadoras no enfrentamento das mudanças do clima. Publicado pela Revista Brasileira de Política Internacional, o trabalho é dos pesquisadores Eduardo Viola e Larissa Basso, ambos da Universidade de Brasília (UnB).

Segundo o estudo, os países do BRIC estão entre os maiores emissores globais de GEE – junto com Estados Unidos, União Europeia, Japão e Coreia. Entre 1990 e 2012, as emissões chinesas aumentaram mais de 230%, contribuindo para que sua participação nas emissões globais subisse de 9,48% para 22,44% em 2012. O setor de energia é o maior emissor de GEE na China. A Índia apresenta o segundo maior número de emissões durante o mesmo período, com um aumento de 140% e tendo sua fonte de emissões também provenientes do setor de energia, chegando a 4,91%.

Já o Brasil e a Rússia apresentam perfis com melhores resultados. Entre os anos 1990 e 2012, as emissões brasileiras aumentaram bem menos em 13,48%, embora ao desconsiderar as emissões de mudança no uso da terra e florestas (LULUCF, na sigla em inglês), esse número suba para 79,18%. Já os setores de energia e agricultura, principais emissores brasileiros, mostraram um aumento de 120,65% durante o período avaliado, respondendo por 1,09% das emissões globais. O cenário da Rússia é ainda mais otimista: as emissões diminuíram mais de 18% entre 1990 e 2012, bem como sua participação nas emissões globais, que teve queda de 8,18% para 4,73% no mesmo período.

Além dos perfis dos países do BRIC, o estudo traz análises de políticas de mitigação da mudança climática, a partir da trajetória dos países na mudança do clima e da identificação dos setores com maior número de emissões. A conclusão é de que o setor de energia é o mais relevante em todos os cenários avaliados para cada país, tendo como diferencial apenas a agricultura no Brasil, um setor que ainda conta com altos números de emissões.

Com base nos resultados obtidos, a pesquisa afirma que esses países são classificados como poderes conservadores, sem previsão de que seus status se modifiquem no futuro. Na China, os esforços para a descarbonização da energia foram pressionados por demandas de redução de poluição e investimento em tecnologias de baixo carbono, mas as fontes com baixa emissão de carbono ocupam uma parcela pequena na matriz energética chinesa. De acordo com o estudo, a China vem investindo em importantes medidas para aumentar a eficiência energética, com a adoção da descarbonização da energia. No entanto, seu ritmo não é rápido o suficiente para estabilizar as emissões de GEE.

No caso da Índia, o estudo aponta o país como um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas, mas com grande potencial para desenvolver energia de baixo carbono. A questão, no entanto, é que o tema não aparece nas discussões do governo indiano, perdendo cada vez mais espaço nas decisões políticas. Com isso, segundo as previsões feitas pela pesquisa, a Índia ficará para trás no enfrentamento das emissões.

Quanto à Rússia, o estudo revela que a queda no número de emissões está associada à redução de sua atividade econômica e não aos esforços para a descarbonização. A avaliação feita no estudo sobre a implementação russa é de que as políticas de suporte à eficiência energética e baixa emissão de carbono são muito fracas e, justamente pelo fato do país depender da exploração de combustíveis fósseis – considerando que é um dos maiores exportadores de petróleo do mundo –, não existem evidências de que o governo russo mude a perspectiva em relação à descarbonização do país.

O caso Brasil

Os resultados para o Brasil indicam o desmatamento como maior fonte de emissões de GEE, junto com o aumento das emissões do setor energético. Apesar do país ter um dos maiores potenciais do mundo para o desenvolvimento de energias renováveis, a falta de investimentos em grande escala para a elaboração de tecnologias de baixo carbono fará com que mantenha sua posição moderada, permanecendo conservador no regime climático.

Com isso, o país perde oportunidades de concretizar a transição para uma economia de baixo carbono. Tanto para o desmatamento quanto para o setor energético, realizar a transição teria custos pouco significativos. De acordo com o estudo Qual o impacto do desmatamento zero no Brasil?, do Instituto Escolhas, cessar todo o desmatamento legal e ilegal geraria um impacto mínimo na economia, com uma redução de apenas 0,62% do PIB acumulado entre 2016 e 2030.

No setor de energia, os dados do estudo Qual o impacto de zerar as emissões do setor elétrico no Brasil?, também desenvolvido pelo Escolhas, mostram que a transição para um setor elétrico com zero emissões de carbono até 2050 praticamente não causaria impacto sobre o PIB e a renda familiar. Alcançar uma eletricidade carbono zero teria um custo de menos de 0,2% no PIB em 2050. O mesmo acontece para a renda das famílias, com um impacto menor do que 0,5% em 2050.

O estudo sobre a descarbonização dos países do BRIC está no Hub de Estudos, plataforma de pesquisa bibliográfica sobre a temática de economia e meio ambiente desenvolvida pelo Instituto Escolhas. Acesse o Hub e confira esse e outros estudos: https://escolhas.org/hub-de-estudos/.

* Estudo não considerou dados da África do Sul – que passou a integrar somente em 2012 o grupo de países que se destacam no cenário mundial como nações em desenvolvimento, conhecido atualmente como BRICS (Brazil, Russia, India, China and South Africa).

 

 

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