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Por Instituto Escolhas

27 julho 2016

5 min de leitura

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Olimpíadas e mudança do clima: o que tem a ver?

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro – que acontecerão de 5 a 21 de agosto – estão tomando a atenção dos brasileiros e da comunidade internacional. No momento em que esse grande evento é o centro dos holofotes, seus impactos ambientais e climáticos serão debatidos por especialistas no seminário “Mudanças Climáticas: o que as Olimpíadas têm a ver com isto?”, que acontece amanhã (28), no Museu do Amanhã. O evento, promovido junto ao Comitê Organizador Rio 2016 e o Observatório do Clima, vai discutir quais são as implicações da mudança do clima e os desafios da descarbonização em megaeventos esportivos.

“Eventos de grande magnitude devem ser pensados sustentavelmente desde o início de seu planejamento. Eles precisam levar em conta os aspectos da vida humana e sua ligação com as mudanças do clima”, afirmou Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e presidente do Instituto Escolhas. Para Toni, cada Olimpíada tem seu próprio desafio. No caso do Rio, neutralizar o carbono emitido tem potencial para ser um legado positivo para a sustentabilidade. De acordo com o Relatório de Gestão da Pegada de Carbono Rio 2016, as emissões estimadas para os Jogos do Rio serão de 3,6 milhões de toneladas de carbono equivalente (CO2 eq), sendo 724 mil toneladas de emissões diretas da construção do evento. Para efeito de comparação, mensalmente a cidade do Rio de Janeiro emite 2,5 milhões de CO2 eq.

Para reduzir esse impacto, a meta é mitigar 500 mil toneladas de CO2 eq para compensar as emissões diretas. Além disso, mitigar 1,5 milhão de CO2 eq para compensar as emissões dos espectadores que, sozinhos, representam 1,3 milhão de toneladas de carbono na atmosfera.

A metodologia preparada pelo Comitê Organizador Rio 2016 para medir as emissões dos Jogos e seus resultados será apresentada pelo Comitê amanhã, durante o seminário. Segundo Toni, a ferramenta será doada ao Observatório do Clima para ser utilizada em eventos futuros. “Essa ‘calculadora’ foi desenhada especificamente para eventos no Rio de Janeiro, pois as noções de emissão mudam de acordo com o lugar onde você está”, disse Toni. Mas não apenas calcular segundo Toni, é preciso definir quais setores, sejam órgãos governamentais ou não, tem a responsabilidade de neutralizar essas emissões.

Legado de Londres

As Olimpíadas do Rio seguem o que foi feito nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Londres, em 2012, o primeiro a desenvolver uma metodologia abrangente para estimar a pegada de carbono do evento e usar isso como uma ferramenta para auxiliar decisões sobre design local, seleção de materiais e estratégias de aquisição. “Fazer uma metodologia apenas como uma ferramenta de comunicação teria sido inútil, pois a ideia era fazer uso após o evento. A estimativa inicial – o que chamamos de ’pegada de referência’ – foi baseada em várias suposições e nos ajudou a identificar quais setores teriam maior impacto”, contou David Stubbs, especialista em sustentabilidade para grandes eventos. Stubbs foi o gerente de Sustentabilidade do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Londres, em 2012 (LOCOG, na sigla em inglês).

Foto: Mike Fleming/ Flickr

Foto: Mike Fleming/ Flickr

O especialista diz que é significativo que o Comitê Organizador Rio 2016 tenha tomado a frente da metodologia desenvolvida em Londres, utilizando seus próprios dados para informar as suas estratégias específicas de sustentabilidade. Stubbs ressalta que o “Rio 2016 será um evento diferente, em um tempo e lugar diferente e com outra infraestrutura, em comparação com Londres 2012. Não dá para comparar os dois”. A pegada de carbono dos Jogos de Londres, por exemplo, foi de 311 mil toneladas de CO2 eq, 28% a menos do que o projeto no início da preparação do evento.

“Nós aprendemos que o escopo das emissões de carbono relacionadas com os Jogos é muito grande. Uma grande parte das emissões é associada a viagens internacionais de participantes e espectadores. No entanto, no caso de Londres, a maior fatia da pegada de carbono veio dos impactos incorporados em materiais necessários para a construção das instalações permanentes”, explicou.

Para o Comitê Organizador dos Jogos de Londres, o foco estava em instalações temporárias e de sobreposição. Outras áreas-chave incluíram o uso de energia, tecnologia, logística e gestão de resíduos. “Em cada uma dessas áreas, desenvolvemos estratégias específicas para limitar os impactos ambientais, incluindo a redução das emissões de carbono”, disse.

E as metas ambientais?

Apesar do potencial para ser um evento de baixo carbono, os demais compromissos assumidos pelo Rio para o meio ambiente deverão ficar apenas no papel. O destaque é o fracasso da limpeza da Baía de Guanabara, cujo objetivo de limpar 80% do esgoto, despejado há décadas nas águas, foi abandonado. “Todos sabem que muitos dos objetivos para o meio ambiente não foram e não serão atingidos. A despoluição da Baía de Guanabara não será mais um legado para a cidade, como foi prometido”, comentou Ana Toni.

Outra meta era plantar 24 milhões de árvores, mas apenas 5,5 milhões de mudas foram plantadas. A lagoa de Jacarepaguá, que margeia o Parque Olímpico, também continua suja. Conforme reportagem especial da Folha de S. Paulo, publicada no início do mês, a Secretaria Estadual do Ambiente, responsável pelas ações na baía de Guanabara e lagoa de Jacarepaguá, afirmou que o descumprimento na despoluição foi causado tanto por falta de planejamento como pela crise financeira. “A área ambiental não sairá pior do que entrou nessas Olimpíadas, mas vai ficar muito aquém das promessas feitas. Esse resultado, no entanto, não tem a ver com Olimpíadas, mas com governos que não priorizam sustentabilidade. Quem perde é o Rio de Janeiro”, disse Toni.

Apesar das dificuldades, Ana acredita que o mais importante é que as Olimpíadas não passem sem que se discutam todos esses desafios para grandes eventos. Para David Stubbs, embora as geografias sejam tão diferentes, há continuidade de Londres para o Rio e estão levando a sustentabilidade para dentro do Movimento Olímpico. Isso é legado positivo.

Para saber mais, leia:
Relatório de Gestão da Pegada de Carbono dos Jogos Rio 2016

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