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Por Instituto Escolhas

09 janeiro 2017

4 min de leitura

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Para superintendente do Itaú, gerenciamento de riscos climáticos é fundamental

A transição para a economia de baixo carbono é uma grande oportunidade para os negócios e uma quebra de paradigma necessária para garantir qualidade de vida para as próximas gerações. Em entrevista ao Escolhas, a superintendente de Sustentabilidade e Negócios Inclusivos do Itaú-Unibanco, – o principal patrocinador da Cátedra Economia e Meio Ambiente – Denise Hills, fala sobre os desafios do sistema financeiro em internalizar e precificar os riscos climáticos de maneira adequada e coerente para, assim, promover uma economia sustentável.

Escolhas – Por que as questões relacionadas aos riscos socioambientais são importantes para o sistema financeiro?

Denise Hills – O aumento da consciência da sociedade em relação às questões socioambientais exige um posicionamento mais específico das operações, produtos e serviços financeiros. Então, é fundamental gerenciar os riscos e buscar oportunidades de negócios, considerando tendências de mercado, regulamentações e demandas dos clientes, dos colaboradores e da sociedade.

Os bancos se relacionam com todos os setores produtivos da economia e têm potencial para gerar impacto positivo dentro da sociedade. Além disso, são responsáveis por fluxos financeiros entre indivíduos, empresas e investidores. Com as questões socioambientais, vem a tarefa de precificar corretamente e contribuir para criar uma economia mais verde e inclusiva. Incorporar adequadamente riscos e oportunidades em produtos e em serviços possibilita a criação de um círculo virtuoso que ajuda a sociedade a prosperar.

Escolhas – Como o sistema financeiro tem incorporado esses riscos na sua forma de atuar?

Denise – A regulação 4.327 do Banco Central, lançada em 2014, colocou em evidência o tema da responsabilidade socioambiental. A partir da resolução, foi estabelecido um padrão mínimo que deve ser buscado por todas as instituições financeiras autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil.

Algumas instituições já possuíam políticas ligadas ao tema e processo de análise de risco socioambiental, porém, com a Resolução, elas aprimoraram seus processos e seguiram os princípios de relevância e proporcionalidade. Isso quer dizer que a abrangência da diligência socioambiental pode variar conforme o segmento avaliado.

Escolhas – Como o sistema financeiro pode colaborar para induzir a criação de economia de baixo carbono?

Denise – As mudanças climáticas e seus efeitos, incluindo os impactos na economia mundial, é um assunto que interessa a todos. Por isso o novo acordo do clima, fechado na COP 21 em Paris no fim de 2015, foi tão comemorado. Além de estabelecer que a temperatura média do planeta não aumente mais do que 2ºC, o Acordo de Paris inclui a participação ativa do setor empresarial, o financiamento para implementação dos termos da transição e os caminhos para atingir uma economia de baixo carbono por meio de novas tecnologias, energias renováveis e restauração florestal, por exemplo.

As instituições financeiras têm o desafio de incorporar as questões socioambientais, inclusive as variáveis climáticas, nos modelos de crédito, investimentos e na precificação correta dos ativos, considerando sempre os impactos socioambientais positivos e negativos. Com isso, deve avaliar de forma responsável o valor e a capacidade de retorno do capital ao investidor.

A identificação e mitigação dos riscos é uma forma que o sistema financeiro possui de influenciar os fluxos de capital para uma economia de baixo carbono. Além disso, é possível potencializar negócios e clientes que já tenham uma consciência e maturidade em relação ao tema, através de títulos verdes, investimentos de impacto, linhas de crédito específicas, entre outras. Ou seja, é uma forma de trazer mais valor para clientes, acionistas e sociedade.

Escolhas – Quais são as principais lacunas de conhecimento ou temas que precisam ser mais estudados relacionados ao papel e à atuação do sistema financeiro quando se fala em sustentabilidade e economia de baixo carbono?

Denise – Acordos como o de Paris, que pretendem reduzir emissões de gases de efeito estufa, reconhecer que as mudanças climáticas são causadas por ações humanas e também reconhecer que é necessário implementar medidas que minimizem problemas socioambientais, representam um grande avanço para sustentabilidade no que diz respeito à economia de baixo carbono. Criar novos produtos ou adequar os já existentes, além de precificá-los dentro da lógica de mercado, são desafios que precisam ser mais estudados no sistema financeiro.

Por se tratar de um tema relativamente novo, não há conhecimento tão detalhado dos impactos socioambientais causados pelas mudanças climáticas em microrregiões, o que dificulta a precificação dos seguros, por exemplo. É necessário internalizar os fatores externos e precificar riscos e impactos de maneira adequada e coerente para, assim, promover uma economia de baixo carbono. Além disso, conhecer os impactos positivos que ela gera é outro assunto que precisa ser aprofundado para provar sua importância em âmbito mundial e para que as empresas se atentem ao tema.

A mudança de uma economia para a de baixo carbono é uma grande oportunidade para os negócios e é uma quebra de paradigma necessária para garantir qualidade de vida para as próximas gerações.

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